O lançamento de 59 flores ao Douro, da ponte Hintze Ribeiro, encerrou hoje à noite a evocação do décimo aniversário da tragédia de Entre-os-Rios, numa cerimónia marcada por apelos ao “virar de página” após uma década de depressão coletiva.
As flores foram lançadas a um Douro anormalmente calmo exatamente às 21:50, hora a que há dez anos ocorreu o colapso da ponte, seguindo-se uma salva de palmas de homenagem às vítimas.
Em declarações à agência Lusa e numa pequena cerimónia no interior do monumento de homenagem às vítimas, o atual presidente da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios (AFVTE-R), Augusto Moreira, disse que a “saudade pelos que morreram é natural, mas – acrescentou – a ferida vai curando”.
Os familiares, sublinhou, “querem um virar de página, querem ser felizes e dignificar a memória das 59 pessoas”.
Enquanto o atual presidente da Câmara, Gonçalo Rocha, levou às famílias uma mensagem “de confiança e esperança em relação ao futuro”.
“A melhor forma de homenagear as vítimas é a afirmação de que tudo prometemos fazer para sermos felizes”, afirmou, por sua vez, o governador civil de Aveiro, José Mota.
Já Paulo Teixeira, que era presidente da Câmara à altura da queda da ponte e que lançou agora um livro sobre a tragédia, admitiu que dificilmente esquecerá o que aconteceu e, quanto às promessas feitas ao concelho após o colapso da ponte, queixou-se que nem tudo está feito.
“As acessibilidades ao exterior estão por cumprir. Temos uma variante por concluir, que fica a apenas 5,8 quilómetros da A41, em Canedo, Feira, e falta completar o IC35”, que ligará o IP4 à A25, disse.
“As pessoas que se lembrem que isso também é Portugal”, apelou.
Horas antes, numa missa em memória das vítimas, o pároco da Raiva, Castelo de Paiva, a freguesia mais enlutada pela tragédia referiu que o concelho não esqueceu o que se passou, mas recusou a imagem de um “povo deprimido” e que “só sabe chorar”.
“Não queremos esquecer o que se passou [há dez anos], mas somos gente feliz”, e “a nossa fé é muito maior do que a realidade da morte”, disse o padre Arlindo Rafael, ao proferir a homilia na missa em memória das vítimas.
A ponte de Entre-os-Rios caiu às 21:10 de 04 de macro de 2001. Morreram 59 pessoas e os corpos de 36 nunca apareceram.
JGJ/RYA.
Lusa/Fim
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