ONTEM NA VISITA AO CONCELHO DE CASTELO DE PAIVA
Otelo reafirma anteriores declarações e insiste em revolução “Militares têm obrigação moral de defender o povo “
Otelo Saraiva de Carvalho insistiu ontem, na sua intervenção
nos Paços do Concelho de Castelo de Paiva, onde foi recebido em sessão
solene, que o desagrado popular pode
conduzir a um Golpe de Estado pelos militares, embora reconhecendo não haver
condições para isso, admitindo, no entanto,
que tudo dependerá dos efeitos da nova lei geral do trabalho, agora
aprovada.
A convite da Câmara Municipal de Castelo de Paiva, a
passagem do estratega do 25 de Abril era aguardada com grande expectativa e
cativou grande adesão popular, tendo sido recebido pelo edil paivense Gonçalo
Rocha e pelo presidente da ACUP – Associação dos Combatentes do Ultramar
Português, José Moreira.
Tratou-se de cumprir uma promessa ao ex-militar paivense
Joaquim Sousa, que serviu Portugal na guerra colonial, ao lado de Otelo Saraiva
de Carvalho, na perspectiva de vir conhecer este concelho do extremo norte do
distrito de Aveiro e, simultaneamente, conhecer o trabalho da ACUP e a sua
missão nacional ao nível do apoio aos ex-combatentes do Ultramar Português.
Esta foi a segunda vez que o ex-capitão de Abril esteve em
Castelo de Paiva, onde esteve em Maio de 2006, integrado no grupo excursionista
da “ Associação dos Amigos dos Castelos “, tendo visitado dos locais mais
emblemáticos do concelho.
O presidente da ACUP deu as boas vindas ao Capitão de Abril
e mostrou-se agradecido pela sua presença em Castelo de Paiva, considerando ser
um marco histórico esta visita do principal responsável pelo Movimento das
Forças Armadas, que devolveu a liberdade a Portugal e aos portugueses, ao mesmo
tempo que recordou a prestação do serviço militar em Angola de um ex-combatente
paivense, entre 1965/67, ao lado de Otelo, motivo de regozijo para a associação
e razão principal desta visita.
Para
José Moreira, a história enaltece e perpetua aqueles que realizam feitos e
obras para o bem nacional e Otelo Saraiva de Carvalho ficará na história do
país por ter sido um dos principais obreiros pelo movimento militar
desencadeado a 25 de Abril e que permitiu abrir caminho para a Democracia que
hoje se vive, sem medo da guerra, de perseguições e da prisão, por expressar
livremente as nossa ideologias politicas e religiosas.
Já o edil paivense, depois da saudação inicial por tão
ilustre visita, e a propósito da vinda de Otelo ao concelho, prestou homenagem
ao militares da liberdade e a todos os portugueses que, no auge da sua
juventude, violentados na sua vontade, foram impelidos para uma campanha
colonial, cumprida em condições dificeis, destacando a bravura dos 27 filhos da
terra que morreram na guerra do Ultramar e os milhares de jovens paivenses que,
entre 1961 e 1974, nela participaram, contrariando ideais e projectos de vida.
Gonçalo Rocha recordou depois a Revolução de Abril e o facto
dos portugueses, graças ao movimento que os capitães conduziram com êxito,
alcançaram outras prerrogativas, ampliadas e cimentadas à medida que se
aprofundou o regime democrático, conseguindo o direito à opinião e expressão, o
direito de acesso á educação, aos cuidados de saúde, evidenciando o Poder Local
autónonomo e livremente eleito.
O autarca de Castelo de Paiva não deixou, no entanto, de
realçar as esperanças e conquistas de Abril, que hoje a coberto de uma crise
económica usada para justificar o que não se justifica, estão a ser perdidas e
esbulhadas, aproveitando para repetir e vincar o repúdio municipal á recente
decisão do Governo de encerrar o Centro de Saúde de Castelo de Paiva no periodo
nocturno, uma decisão inesperada, inexplicável e infundamentada que priva a população
paivense de um direito elementar, constitucionalmente consagrado.
E a pretexto das dificuldades que se evidenciam cada vez
mais, onde o exercício do Poder Local e o desempenho dos autarcas estão
diminuídos e limitados, Gonçalo Rocha agarrou o exemplo dos jovens que há cinco
décadas atrás assumiram exemplos de coragem, sacrificio, de união, carácter e
humildade, para apelar à consciência individual e colectiva e fazer de Portugal um país melhor, e Castelo
de Paiva uma terra de oportunidades, mais solidária e atractiva, concluindo a
sua intervenção, com uma mensagem de esperança aos ex-combatentes e familias e
manifestando a satisfação de receber um dos principais responáveis da Revolução
de Abril, em Castelo de Paiva.
Durante uma cerimónia de homenagem promovida pela CM de
Castelo de Paiva e pela Associação de Combatentes do Ultramar Português, o
estratega do 25 de Abril manteve o sentido das declarações proferidas em
Novembro, que motivaram um inquérito do Ministério Público: " Mesmo em
democracia, quando são ultrapassados determinados limites, as Forças Armadas
têm por dever derrubar o Governo, se ele entrou num estado ditatorial, que
provoca um sofrimento enorme ao povo e ao País ".
Apesar de não ver reunidas as condições para um Golpe de
Estado, "pelo menos por enquanto", o coronel acrescentou que "
tem que haver consciência nos militares, que, representando o último bastião do
Poder em armas, (...) têm a obrigação moral de defender os interesses do
povo".
Otelo Saraiva de Carvalho considerou que "não estão
ainda criadas condições para que os militares de hoje possam assumir a
responsabilidade de se lançarem numa representação do povo em armas", mas
avisou: "Os limites só podem ser definidos pelo panorama político que se
desenrolar, por exemplo, a partir de agora, com a nova lei geral do
trabalho".
Quem definirá esses limites, disse, são "as massas
trabalhadoras", junto das quais entende que os sindicatos funcionam como
"uma almofada de contenção da insurreição popular". Por isso
reconheceu: "Ainda não vi nenhuma manifestação popular que possa ser
considerada de tipo insurrecional", avançando que "Portugal é um país
de brandos costumes", considerando, no entanto, que, "no dia em que
os limites forem ultrapassados, o povo é que o saberá sentir".
Quanto ao teor das suas declarações, que já provocaram
polémica por serem entendidas como um apelo ao tumulto, o 'militar de Abril'
defendeu em Castelo de Paiva que a
'Revolução dos Cravos' teve como um dos seus objectivos garantir-lhe
precisamente esse direito: "O de poder dizer as alarvidades que eu quiser,
porque o que eu digo é a minha opinião e, num país livre, eu não posso ser
condenado por expressá-la".
Insistindo, argumentou ainda que "tem direito a tê-la,
mesmo que ela seja contrária a todas as outras", realçando: "E a
minha opinião é que, para derrubar o poder político, em qualquer país do mundo,
os trabalhadores não podem fazê-lo sem recurso à violência, que é algo que a
burguesia teme".
Otelo Saraiva de Carvalho participou, depois, numa cerimónia
de homenagem ao militares paivense mortos na Guerra do Ultramar, fazendo uma
intervenção e depositando uma coroa de flores no Monumento aos Ex-Combatentes,
concluíndo a visita com uma passagem pela sede da ACUP, em Castelo de Paiva.
GIRP/Carlos Oliveira
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