Os festejos do Cinfanenses após o golo do empate alcançado por Sérgio Silva
Estádio Professor Cerveira Pinto, em Cinfães
Árbitro: João Capela (A F Lisboa)
7000 mil espectadores
As equipas oficiais:
C D CINFÃES
Miguel Matos, Nakata, Jonas, Kipulo, Luís, André Pinto, Rogério, Rui Gonçalves, Mauro (Zé Pedro, 85), Miki e Sérgio Silva (Sidon, 89).
Suplentes: Padeiro, Domingos, Zé Pedro, Carlitos, Serra, Sidon e Nogueira
Treinador: Victor Moreira
FC PORTO: Nuno, Tengarrinha (Candeias, 35), Rolando, Stepanov, Lino, Pelé, Guarin, Tomás Costa, Tarik Sektioui (Hulk, 71), Mariano Gonzalez e Ernesto Farias (Rabiola, 87)
Suplentes: Ventura, Benitez, Bolatti, Lucho Gonzalez, Candeias, Hulk e Rabiola
Treinador: Jesualdo FerreiraAo intervalo: 0-0 ( final 1-4 )
Marcadores:
0-1, Ernesto Farias, 52 minutos.
1-1, Sérgio Silva, 75.
1-2, Guarin, 78.
1-3, Candeias, 82.
1-4, Guarin, 86.
O F.C. Porto garantiu a vitória na 5ª eliminatória da Taça de Portugal, mas a verdade é que história devia reservar um capítulo para a valente equipa de Cinfães, onde se pudesse evidenciar e enaltecer a abnegação demonstrada pela equipa da III Divisão frente ao tricampeão nacional. A equipa portuense regressou a casa com uma vantagem de três golos e missão cumprida, mas arriscaram demasiado e chegou mesmo a tremer, pelo menos durante a primeira metade, quando os comandados de Vítor Moreira obrigaram os visitantes a trabalho redobrado.Jesualdo Ferreira poupou oito titulares nesta deslocação a Cinfães e promoveu um exame global às soluções existentes no plantel do F.C. Porto. É que a Taça de Portugal costuma ser cenário de rodagem competitiva para os elementos pouco utilizados no seio da equipa. O plano B do F.C. Porto foi insuficiente para intimidar o Cinfães,
justíssimo terceiro classificado da Série C da III Divisão. Mas realidades são incomparáveis…O treinador portista reuniu um grupo de internacionais e subiu a Serra de Montemuro, encontrando uma terra onde o azul e branco parece predominar. Na festa da Taça, com o coração dividido, os locais estiveram em força e optaram por torcer pela equipa da casa, esquecendo a simpatia pelos campeões nacionais.
Com pasteleiros, estudantes, engenheiros e um treinador dedicado à sua loja de roupa durante a semana, o Clube Desportivo Cinfães foi controlando a ansiedade até ao momento do apito inicial e no relvado bem tratado do Estádio Municipal Cerveira Pinto os atletas mostraram garra e empenhamento, protagonizando uma primeira parte de luxo, chegando mesmo a encostar a equipa portista ao seu reduto defensivo.O Cinfães, em 4x5x1, mas com dois médios-ala muito ofensivos, começou por dizer ao FC Porto que não estava neste jogo da Taça para ser o “bombo da festa” e, nos minutos iniciais, sobretudo através de uma rápida circulação de bola, chegava à área adversária com facilidade.Incapazes de perceber a estratégia delineada pelo técnico Vítor Moreira, os “azuis-e-brancos” sentiram vários calafrios durante a partida, primeiro por Miki e depois por Mauro.O F.C. Porto atrapalhado, ia fazendo o jeito, tremendo a cada investida da turma cinfanense, tentando surpreender em contra-ataque, mas a equipa da casa estava galvanizada e lutava com afinco
levando os adeptos ao rubro, orgulhosos por verem os seus “ craques” a bater o pé a um gigante do futebol nacional.Ao longo da etapa inicial do encontro, mais de sete mil pessoas assistiram a um duelo a pender para os da casa, numa contenda entre dois clubes com quatro escalões de diferença. Falar em equilíbrio até soa a elogio e a favor, face ao fraco desempenho dos dragões, mas a verdade é que o Cinfães não conseguiu marcar e foi perdendo a fé. Jesualdo Ferreira sentiu o perigo e respondeu pouco depois da meia - hora, trocando o aflito Tengarrinha por Candeias e aí parece que o F.C. Porto despertou um pouco Equipa cinfanenseresistiu até aos 78 minutos Os adeptos cinfanenses acreditavam e mostraram-se esperançados que o intervalo tivesse potenciado um novo fôlego para os homens de Vítor Moreira, no sonho de surpreender os tripeiros, mas cedo se constatou que os atletas do Cinfães já não tinham a pujança inicial e começavam a fraquejar. Notava-se isso naqueles lances de disputava de bola mais individualizados ou nos contra-ataques… Curiosamente, o golo portista surgiu quando o Cinfães desenhava mais um ataque, um passe errado, bola em Mariano González e o talento a resolver um problema bicudo. O argentino flectiu da esquerda para o centro, Miguel Matos não segurou e defendeu para a frente e Ernesto Farías desfez o nulo, na recarga. O FC Porto sabia que mais tarde ou mais cedo resolveria a eliminatória e foi jogando a passo, esperando pela cedência em termos físicos do adversário. No segundo tempo o Cinfães caiu claramente.A equipa da invicta encarava a etapa complementar com maior tranquilidade, dedicando o seu tempo a gerir a magra vantagem. O Cinfães não baixou os braços, mas ia claudicando em termos físicos, e os dragões voltaram a entrar numa espiral de sobranceira até ao minuto 75 quando Sérgio Silva elevou-se bem e deu uma tremenda cabeçada na apatia generalizada, após canto cobrado por Miki, voltou a pairar a incerteza. As gentes de Cinfães deliraram, Sérgio postou-se por terra rodeado pelos colegas e agradeceu o momento único na sua carreira, mas o sonho cinfanense esfumou-se em pouco mais de um minuto. Depois Guarín bisou em lances de bola parada e, pelo meio, Candeias também teve tempo de picar o ponto e antes do apito final, até deu para assistir ao regresso de Rabiola, após longo calvário de ausência no plantel portista.O CD de Cinfães saiu derrotado mas está de parabéns, porque foi um digno vencido, soube dignificar o espectáculo, a festa da Taça, a terra e sua gente, e resultado só peca por exagerado, perante um Porto que, apesar de amputado dos seus titulares, não esteve bem e teve mesmo que dar o litro para vencer a partida, contando ainda com uma ligeira cumplicidade do árbitro que, na dúvida, pendia sempre para as hostes portistas.No final, na habitual conferência de imprensa, recolhemos as declarações dos intervenientes:
Jesualdo Ferreira, treinador do FC do Porto : “Entrámos mal no jogo e tivemos de fazer uma análise interior para mudar a nossa atitude. Encontrámos aqui um excelente relvado, curto, tornando o jogo muito rápido. Lancei o Candeias porque precisávamos de mais velocidade nas linhas. O meu destaque para o Guarín, porque entendeu o que queríamos, marcou dois golos e este pode ser um bom exercício para o futuro. Parabéns igualmente ao Cinfães, uma equipa aguerrida que joga bem, sem chutar para a frente. Cumprimos o nosso objectivo.»
Vítor Moreira, treinador do Cinfães: «Sabíamos que à medida que o jogo ia correndo, a missão iria ficando mais complicada. Do outro lado estava o F.C. Porto. O objectivo passava igualmente por dignificar o clube, a terra, e penso que estamos de parabéns. Ninguém nos podia impedir de sonhar e lutámos de igual para igual, fizemos um jogo fantástico, a primeira parte foi mesmo brilhante. O primeiro e terceiro golos do F.C. Porto surgem de falhas nossas. Não vou dizer o que Jesualdo me disse no final do jogo, mas deu-nos os parabéns.»
Mauro, jogador do Cinfães: «Foi pena, tive uma boa oportunidade para marcar na segunda parte, mas não consegui. A bola passou perto, pensei mesmo que ela ia entrar. Comecei bem o jogo, cheguei algumas vezes à linha de fundo e percebi que, de facto, num jogo tudo pode acontecer. Infelizmente, os cruzamentos não resultaram em nada e o F.C. Porto acabou por marcar o primeiro golo num lance de contra-ataque. Quando empatámos, ainda pensámos que podíamos fazer uma gracinha, mas em termos físicos já estávamos a dar as últimas.» Reportagem de Carlos Oliveira